Aeronave, com 11 tripulantes a bordo, caiu na costa da Nova Guiné após ser atingida por fogo inimigo durante uma missão de bombardeio contra japoneses
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 26/05/2025, às 16h00
O que começou como uma missão fatal no Pacífico Sul, em plena Segunda Guerra Mundial, encontrou seu desfecho mais de oito décadas depois. Restos mortais de quatro tripulantes do bombardeiro americano B-24 Heaven Can Wait, abatido em 11 de março de 1944, foram finalmente recuperados e estão sendo enterrados com honras nos Estados Unidos.
A aeronave, com 11 tripulantes a bordo, caiu na costa da Nova Guiné após ser atingida por fogo inimigo durante uma missão de bombardeio contra alvos japoneses. Nenhum dos ocupantes sobreviveu. Por décadas, os destroços permaneceram no fundo do mar, a cerca de 60 metros de profundidade, considerados irrecuperáveis.
Mas uma busca persistente liderada por familiares — especialmente por Scott Althaus, primo do copiloto Thomas Kelly — reabriu o caso. Althaus, professor da Universidade de Illinois, decidiu investigar o paradeiro do avião ao se aproximar do Memorial Day, há 12 anos.
A busca envolveu análise de documentos, fotos e relatos, culminando em um relatório detalhado que localizou a possível área da queda, próxima a Awar Point, na atual Papua-Nova Guiné.
Em 2017, o campo de destroços foi localizado por mergulhadores do Projeto Recover, organização sem fins lucrativos dedicada a encontrar e repatriar militares americanos desaparecidos, em parceria com a Agência de Contabilidade de Prisioneiros de Guerra/Desaparecidos em Guerra (DPAA).
Em 2023, a DPAA liderou a missão de recuperação mais profunda de sua história, com mergulhadores da Marinha utilizando um sino pressurizado para alcançar os destroços.
Placas de identificação, objetos pessoais e restos humanos foram resgatados. Entre eles, a placa parcialmente corroída do sargento Eugene Darrigan, operador de rádio, e o anel de Kelly, ainda legível com a palavra “BOMBARDIER”.
Após testes de DNA, os militares confirmaram a identificação de Darrigan, Kelly, o piloto Herbert Tennyson e o navegador Donald Sheppick. Eles são os primeiros dos 11 tripulantes a serem formalmente repatriados.
Conforme repercute o The Independent, as cerimônias de sepultamento começaram neste mês. No último sábado, 24, Darrigan foi enterrado com honras militares em Wappingers Falls, Nova York, sua cidade natal. Cerca de 200 pessoas participaram da homenagem.
Seu filho, falecido em 2020, não chegou a testemunhar o momento, mas seu neto esteve presente. A sobrinha de Darrigan, Virginia Pineiro, recebeu solenemente a bandeira dobrada.
Kelly será enterrado nesta segunda-feira, 26, em Livermore, Califórnia, onde cresceu. Uma procissão de veteranos em motocicletas ará por locais marcantes de sua infância. Segundo Althaus, "é improvável que a memória de Tom Kelly desapareça tão cedo", conforme repercute o jornal britânico.
Sheppick será sepultado nos próximos meses em Coal Center, Pensilvânia, próximo aos pais. Ele nunca conheceu seu filho, que morreu jovem, vítima de câncer. Tennyson, por sua vez, será enterrado em 27 de junho em Wichita, Kansas, ao lado de sua esposa Jean, que viveu até os 96 anos e nunca se casou novamente.
"Ela nunca deixou de acreditar que ele voltaria para casa", afirmou ao Independent o neto do casal, Scott Jefferson. "E agora, de certa forma, ela estava certa". Sete membros da tripulação seguem desaparecidos, e novas missões ao local não estão descartadas.
