Durante o auge do fascismo italiano, Benito Mussolini se incomodou com a vocação internacionalista da Inter de Milão e obrigou a fusão do time com outro clube
Muito antes de disputar títulos europeus, a Internazionale Milano (ou a Inter de Milão, como chamamos aqui no Brasil) travou uma importante batalha fora de campo: a de sua própria identidade.
Neste sábado, 31, a Inter de Milão entra em campo contra o PSG pela final da Liga dos Campeões da UEFA, a partida pode render ao time italiano sua quarta orelhuda (como o troféu da competição é carinhosamente apelidado).
Mas a Inter já travou batalhas mais duras. Em meio ao avanço do fascismo na Itália entre os anos 1920 e 1940, o clube se tornou alvo do regime de Benito Mussolini por um motivo peculiar — sua vocação internacionalista.
Afinal, o clube foi fundado por antigos sócios do Milan, que não aceitavam o fato do clube contar com jogadores estrangeiros. Assim surgiu a Internazionale — nome escolhido pelo clube ser "amigo do mundo", como dizia a famosa frase usada na fundação dos Nerazzurri.
Esta noite maravilhosa nos presenteia com as cores do nosso brasão: preto e azul sobre o fundo dourado das estrelas. Nos chamaremos Internazionale, porque somos irmãos do mundo", declarou Giorgio Muggiani, fundador e primeiro presidente da Inter de Milão.
O nome Internazionale e sua abertura a estrangeiros desagradavam profundamente um governo que promovia a italianização de tudo, inclusive do futebol, descreve John Foot em 'Calcio: A history of Italian football'.
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Fundada em 1908 por dissidentes do Milan que queriam aceitar jogadores estrangeiros, a Internazionale nasceu com a proposta de ser aberta ao mundo. Desde o nome até a composição de seus elencos, o clube expressava valores cosmopolitas — um contraste direto com o clima nacionalista que crescia na Itália. Um exemplo disso foi o primeiro capitão da equipe, o suíço Hernest Manktl, conforme recorda o Trivela.
Mas na década de 1920, o fascismo se consolidava como regime autoritário na Itália. Com Mussolini no poder, políticas de controle cultural e nacionalismo extremo invadiram todas as esferas — inclusive o futebol, descrevem Richard Holt e Pierre Lanfranchi em 'Sport and Fascism in Europe'.
Em 1928, o regime impôs à Inter uma fusão forçada com o Unione Sportiva Milanese, dando origem à Società Sportiva Ambrosiana. A palavra 'Internazionale' foi considerada "anti-italiana" demais, além de poder ser associada à Internacional Comunista. O nome Ambrosiana, além disso, fazia referência ao Santo Ambrósio, padroeiro da cidade de Milão.
Mesmo com o novo nome oficial, a torcida e boa parte da imprensa continuaram se referindo ao time como "Inter", escreve Foot. Dois anos depois da mudança, o clube conquistou o primeiro campeonato italiano disputado em turno único.
Já em 1932, por iniciativa do presidente Ferdinando Pozzani, o clube mudou novamente de nome e ou a ser conhecido como Ambrosiana-Inter. Sob a alcunha, o time chegou à final da Copa da Europa Central do ano seguinte — a principal competição europeia de clubes na época, perdendo na partida dupla contra o Áustria Viena.
Em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, Carlo Masseroni foi nomeado presidente do clube. Foi ele quem, em 1945, anunciou o retorno ao antigo nome: Football Club Internazionale Milano. O retorno ao nome histórico foi também um ato de reafirmação dos valores fundadores do clube.
